A cera vermelha que lacra cada garrafa de Maker’s Mark de maneira única é uma das principais características da marca – mas isso você já deve ter reparado. O que pouca gente sabe é que cada lacre ainda é feito de manualmente, um por um, ali mesmo na destilaria, na Fazenda Star Hill, em Loretto, no Kentucky. E que a ideia toda – do lacre, da garrafa quadradinha, do rótulo e mesmo do selo da fazenda – foram ideias da mulher que ajudou Maker’s Mark a ser o que é: Margie Samuels.
Já, já, eu conto como eu dancei Steve Wonder junto com os funcionários que estavam justamente lacrando as garrafas naquele dia. Foi inesquecível. Antes, quero falar da sala que fica logo antes da portinha que dá acesso a essa parte da destilaria. A chamada “Antessala da Margie, criado em 2022 para honrar a memória – e a contribuição – da mulher que, ao lado do marido Rob Samuels, ajudou a construir a marca. Uma antessala toda de vitrais coloridos que retratam borboletas, passarinhos, plantas e outros elementos que você encontra na fazenda. Dentro dela, em armários de vidro e madeira de carvalho americano – a mesma usada para envelhecer o bourbon – uma coleção de objetos de estanho. Ao lado, uma panela antiga também de estanho exibe uma cera já seca, algumas garrafas antigas de Maker’s e um quadro colorido retratando a própria Margie. Na tela, ela segura um jarro de estanho, há imagens das estrelas que compõem o selo da marca e também do trigo vermelho de inverno que é um dos componentes principais de sabor de Maker’s Mark.
A sala diz muito sobre a contribuição de Margie para a marca, mas não diz tudo. As peças de estanho eram de sua coleção pessoal e foi em uma delas que Margie testou pela primeira vez a cera que acabou virando um diferencial da embalagem. As estrelas retratadas no quadro dão nome à fazenda – Star Hill – e estão no selo da marca, também ideia da Margie, que decidiu criar esse símbolo, a exemplo do que via nas próprias marcas de estanho – cada família produtora das peças tinha um selo, e ela optou por criar um para o Maker’s Mark também.
Mas a contribuição dela vai além: o rótulo, ainda impresso um a um dentro da própria destilaria, também é criação dela, assim como a fonte da marca e a garrafa. Tudo para diferenciar não só o conteúdo, já que o líquido seria diferente dos outros bourbons do mercado, mais avelulado, feito com trigo vermelho de inverno, mas também a forma: a garrafa seria peculiar e se destacaria entre as outras. Dito e feito.
É, no entanto, em outro aspecto que a presença da Margie fica muito marcante na destilaria: a quantidade de mulheres trabalhando – da inovação, quase toda liderada por mulheres, às pesquisas de líquido, dentro de todos os processos da destilação, na sala de embalagens, no bar da destilaria, tocado por uma bartender – Leslie Krockenberger, até a liderança de hospitalidade e advocacy da destilaria, a britânica Amanda Humphrey. Há mulheres em funções distintas e importantes, e elas fazem parte do processo de criação da marca e também de como Maker’s Mark se posiciona hoje em dia.
E por falar em hospitalidade, está aí outra contribuição enorme da Margie: foi ela quem criou a cultura de hospitalidade da marca, presente em todos os lugares da destilaria. Visitar a fazenda de Star Hill é uma experiência de hospitalidade, e das boas. Logo na entrada, um jardim de ervas e flores comestíveis, usadas nos coquetéis e jantares servidos dentro da destilaria, além de servir para pesquisa de aromas e ingredientes. A destilaria em si é repleta de obras de arte, por todos os lugares, e há pessoas treinadas e apaixonadas para te receber por lá e te ensinar mais sobre aquele lugar que mais parece ser cenário de um filme do que uma destilaria, de tão bem-cuidado e de tanto zelo envolvido – isso faz diferença para quem visita, mas também para quem trabalha lá.
E aí, lembram do Stevie Wonder? Pois é, assim que você sai da Antessala da Margie, você entra por uma portinha onde há um corredor suspenso de cera vermelha e vários funcionários – dos seis ali no dia em que eu visitei, cinco eram mulheres – mergulhando garrafas ainda não lacradas de Maker’s na cera e finalizando o processo da destilaria. Naquela sala, tocava “You are the Sunshine of my life” e todos eles cantavam. Eu entrei na dança, cantei junto, sorri e pensei: o roteirista da destilaria só pode estar de brincadeira comigo. A roteirista, meus caros, é a própria Margie. E que diferença ela faz. Brindemos!
Ah… a contribuição de Margie é reconhecida além dos limites da Fazenda Star Hill: ela foi a primeira mulher a entrar no Hall da Fama do Bourbon, em 2014, abrindo caminho para que outras chegassem. Pioneira que chama, né?